História

Nesta pequena casa acolhedora, feita de pormenores da região do chão ao teto, há muito onde pousar o olhar. No prato, servem «tripas». Com atum, queijo, salsichas, o que a imaginação de Paulo Pinheiro ditar.

Paulo Pinheiro passou mais de um ano a preparar o seu espaço. Seis mil horas dedicadas a levar Aveiro para o pequeno restaurante. Chegou a desenhar 35 cenários nas paredes, todos inspirados na cidade. «Tenho mais de 200 mil fotos de Aveiro», revela. As ideias, entretanto, saíram da sua cabeça e tornaram-se realidade.

Além de tratar da decoração, Paulo é também o cozinheiro de serviço, ou não tivesse ele 20 anos de «tripas» nas mãos. Atenção: tripas à moda de Aveiro. Isto é, uma massa mole de bolacha americana que pode levar vários recheios. No Tê Zero, as tripas ganham outras dimensões. Paulo faz a massa e mexe-a à mão, sem recurso a batedeiras. E depois junta-lhes ingredientes salgados como atum, queijo, fiambre, salsicha, que podem chegar ao prato acompanhados com molho de alho ou manteiga de amendoim. A de atum é servida com queijo e orégãos – e a mistura, acredite-se, resulta. Não é bem um doce, não é totalmente um salgado. Doces, também as há: com ovos-moles, leite condensado, chocolate ou compotas.

«Pegámos num produto e melhorámo-lo visualmente», diz. A qualidade é ponto assente e as dimensões são generosas, uma tripa dá para duas pessoas não muito esfomeadas. A de ovos-moles pode ser acompanhada com gelado de lima-limão. Ou com gelado de morangos ou com compotas de maçã, abóbora ou framboesa.

Aveiro corre nas veias de Paulo e na decoração do Tê Zero. Nas paredes, as típicas casas às riscas da Costa Nova, canastras de peixe, azulejos azuis e brancos com ditados populares. O teto é um céu com o farol de Aveiro em relevo. A cozinha tem uma chaminé semelhante à dos fornos onde se cozia a porcelana. E numa das paredes, em escotilhas, foi pintada a vista que se tem do mar na aproximação à praia da Barra.

O Tê Zero é pequeno, como o nome sugere, mas não acanhado. Tem mesas e bancos de madeira, altos e baixos, da cor da madeira, vermelhos e amarelos. A música é portuguesa. O pai de Paulo, o alfaiate Joaquim Pinheiro, e o senhor Augusto, que fazia os melhores pregos das redondezas, têm direito a retrato à entrada. E Paulo, que na escola primária dizia que se um dia tivesse um negócio seu lhe chamaria T0, sente-se em casa. Afinal, nasceu a dois passos dali.

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